As posturas do corpo
O corpo humano também reza; por ele se exprimem os sentimentos que enchem a alma do orante. Já na vida profana verifica-se que não é indiferente que alguém realize uma ação importante permanecendo descuidadamente sentado ou atentamente em pé. O mesmo se dá na Liturgia: a oração se torna mais expressiva em função do estar em pé, sentado ou ajoelhado. Daí a recomendação de uniformidade da assembléia formulada na Instrução Geral do Missal Romano n° 20:
"A postura uniforme, seguida por todos os que tomam parte na celebração, é um sinal de comunidade e unidade da assembléia, uma vez que expressa e fomenta ao mesmo tempo a unanimidade de todos os participantes". Ver obra citada p. 252
Examinemos cada uma das três possíveis posturas do corpo humano nas celebrações da Liturgia.
3.3.1. Em pé
O estar em pé é característica do ser humano (homo erectus); é o símbolo da dignidade do homem como rei da criação. O estar em pé significa: a) respeito ou reverência a alguém ou algo de muito importante; b) prontidão e disponibilidade para responder a uma mensagem.
Notemos que Jesus na sinagoga se levantou para fazer a leitura e, a seguir, se sentou para fazer a homilia (Lc 4,16). No Apocalipse aparece "uma multidão... de todas as nações... em pé diante do trono e do Cordeiro" (7, 9).
Atualmente é facultado aos fiéis receber em pé a Comunhão Eucarística, como se fazia outrora. Esta atitude é inspirada pela convicção de que a Comunhão é a participação na Páscoa ou na vitória de Cristo...
Verdade é que o estar em pé pode também exprimir orgulho e auto-suficiência, como no caso do fariseu da parábola censurado por Jesus (cf. Lc 18, 11). Isto leva a dizer que não há posturas essencialmente puras; o que importa em cada caso é assumir uma atitude interior adequada que dê o sentido próprio à postura corporal.
3.3.2. De joelhos
Esta atitude exprime adoração ou o reconhecimento da suprema soberania de Deus. Exprime também humildade e penitência; o ser humano é um pecador que precisa da misericórdia divina humildemente solicitada. Nos dias de penitência a Igreja convida os fiéis a se ajoelhar antes de certas orações.
Contemplando a grandeza do amor de Deus, escreve São Paulo: "É por Isto que dobro os joelhos diante do Pai" (Ef 3, 14).
O próprio Cristo orou de joelhos no horto das Oliveiras (Lc 22, 41).
Hoje em dia registra-se a tendência a menosprezar a oração de joelhos; existem capelas com cadeiras e almofadas na presença do Santíssimo, sem algo que facilite ou insinue a genuflexão. - Seria lamentável a perda do sentido da oração de joelhos; ela nos convida a nos sentir pequenos e pecadores... que têm fome e sede de justiça ou santidade. A Igreja em sua Liturgia conserva tal prática (tenha-se em vista a sexta-feira santa, o rito das Ordens sacras...).
3.3.3. Sentados
O estar sentado exprime concentração e meditação ou também a escuta de uma leitura ou de uma homilia.
Na Liturgia Eucarística toca à comunidade ficar sentada nos momentos abaixo mencionados pela Instrução Geral do Missal Romano:
"Permanecerão sentados durante as leituras que precedem o Evangelho, com seu salmo responsorial, durante a homilia e enquanto se faz a preparação dos dons no Ofertório; e, de acordo com a oportunidade, também ao longo do sagrado silêncio que se observa depois da Comunhão" (n°21).
A rubrica enfatiza assim a receptividade ou a escuta concentrada, a pausa para meditação e a interiorização após a S. Comunhão.
Estas ponderações sugerem ainda uma palavra sobre o silêncio.
4. O Silêncio
O silêncio é um dos símbolos menos entendidos e praticados nas assembléias de culto.
O silêncio tem seu significado como atitude de escuta e assimilação da Palavra, atitude esta donde deve brotar a palavra de resposta a Deus que falou. Tal atitude é profundamente cristã: escuta em silêncio aquele que é humilde e reconhece que não sabe tudo; reconhece que é pobre na presença de Deus. O auto-suficiente e o orgulhoso não escutam. - Sabiamente escreve J. Aldazabal (ob. cit, p. 205):
"Fala, Senhor, que teu servo escuta
A justa proporção entre palavra, canto, gesto, movimento e silêncio é fundamental para uma boa celebração.
Concretamente, saber fazer silêncio, saber escutar, dá profundidade à nossa oração. É a atitude clássica de fé do jovem Samuel: 'Fala, o teu servo escuta' (1Sm 3, 10).
Entretanto, não se pode escutar se não houver silêncio interior e se o ritmo da celebração não transmitir serenidade.
Isso requer aprendizagem, fora e dentro da celebração: saber escutar os outros, na vida diária, nos educa para escutar a Deus; o exercício de escutar a Palavra de Deus ou do presidente nos treina para saber escutar os outros fora da igreja...
Escutar, naturalmente, não é o suficiente: 'Mas sede realizadores da palavra e não apenas ouvintes' (Tg 1, 22). Porém, escutar é o caminho para a assimilação e o compromisso. Sobretudo se a equipe de animação proporciona uma escuta fácil e densa.
Um bom desejo é que se torne realidade para todos o que afirma o profeta: 'Manhã após manhã ele (o Senhor) me desperta o ouvido, para que eu escute, como os discípulos' (Is 50, 4)”.
BOAS MANEIRAS NA IGREJA
Está sendo propagado em nossas igrejas o seguinte valioso Diretório:
Assim como todo evento ou reunião tem seu traje específico, uma postura a seguir e um tipo de comportamento a adotar, a Santa Missa também é regida por regrinhas de boas maneiras que, às vezes, passam despercebidas por muitas pessoas. Em alguns casos, por ignorância do que diz respeito à liturgia, já que muitos não têm acesso a uma catequese mais profunda ou até a um estudo maior sobre o assunto. Há outros casos em que o problema está no bom senso, ou na falta dele! Que tal, então, começar a observar alguns pontos importantes?
Regra 1: como se vestir?
Parece que nem precisamos falar do tópico "roupa adequada", mas muita gente ainda peca nesse sentido. Decotes, saias curtas, shorts, barriga à mostra... Nem pensar! Você iria de terno para a praia, em pleno verão carioca? Não! Portanto, a Igreja é um lugar sagrado e a Missa é a expressão maior do amor de Deus para conosco. Vale caprichar no visual, mas não precisa colocar roupas chiques e caras... Apenas zele para que seu traje esteja comportado e que não chame a atenção. Isso vale para todo fiel da assembléia e também para os que exercem algum serviço no rito litúrgico. Lembrem-se: o que deve prender a atenção é a Palavra de Deus, e não um decote de tirar o fôlego!
Regra 2: fale só o necessário
A Liturgia da Missa é rica em leituras, canções e orações. No folheto, que é entregue para que acompanhemos os ritos, estão determinadas as horas em que cada um deve participar. Portanto, fale na hora em que a assembléia deve responder ou cantar. Não tente rezar a missa junto com o padre. Você desvia a atenção das pessoas e tira a concentração daqueles que querem prestar atenção. O momento da Homilia, quando o sacerdote traz para o nosso cotidiano os ensinamentos das leituras do dia, é de puro silêncio, de atenção total ao que está sendo dito. Conversar com a pessoa do lado só faz com que todo mundo ao seu redor fique irritado com o burburinho, sem se fixar na mensagem importante que está sendo passada e, ainda por cima, prestando atenção no seu papo.
Regra 3: senta, ajoelha, levanta
Os gestos também compõem o ritual da Santa Ceia, colaborando para que expressemos, com corpo e alma, nossa alegria de estar ali, participando do Banquete do Senhor. Assim, fique atento aos momentos em que deve se levantar, mostrando sua disposição; aos momentos em que deve estar sentado, ouvindo e refletindo sobre o que está sendo dito; aos momentos em que deve se colocar de joelhos, adorando o Senhor e se mostrando disponível a Ele.
Outro gesto muito importante na Missa é o Sinal-da-Cruz. Ele é sempre feito no início e no fim da celebração, é o sinal do cristão. Portanto, não é preciso repeti-lo quando você se dirige ao altar para colocar sua oferta ou receber a comunhão. Apenas faça uma rápida reverência, inclinando a cabeça, em sinal de respeito.
Regra 4: cuidado com a falta de respeito
Preste atenção a pequenos gestos que incomodam ou sinalizam a falta de respeito ao templo e ao mistério celebrado: a) mascar chicletes; b) usar boné ou touca; c) ficar andando durante a missa; d) distrair-se com algum objeto; e) alimentar-se no interior do templo; f) rezar o terço durante a missa; g) não desligar ou atender o celular.
Regra 5: observar é fundamental à participação
Se você tem dúvidas sobre como se comportar em determinado instante da missa, não tenha medo de perguntar. Vale sempre o bom senso e a educação. Observe os gestos dos sacerdotes, coroinhas e ministros da Eucaristia, que são preparados para a celebração e têm muito a nos ensinar. Fique atento também às palavras do comentarista que, a cada parte da Missa, explica o que está porvir e como deveremos proceder para viver melhor aquele momento.
(Texto: Dom Estêvão Bettencourt)
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